Educação do corpo em manifestação cultural afro-
brasileira:
o jogo de capoeira no contexto da indústria cultural
Muleka Mwewa
Alexandre Fernandez Vaz
Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Pós-graduação em Educação
Núcleo de Estudos e Pesquisas Corpo, Educação e Sociedade/UFSC
I. Introdução
A capoeira é geralmente vista como uma manifestação cultural genuinamente
brasileira, como se fosse possível um caráter nacional por subtração (SCHWARTZ,
2001): uma síntese de elementos africanos com outras formas de expressão corporal aqui já
existentes antes e durante o período de escravidão. Ela se combina – como jogo, luta, dança
e/ou mesmo esporte-espetáculo – com um conjunto de outras manifestações da cultura
corporal dos afro-brasileiros. Tal como mostrou Soares (1999, p. 25)
... todas as Nações africanas tiveram representantes presos como capoeiras, nas mais diversas proporções, por
todo período estudado [séc.XIX]. Esses dados reforçam a idéia da capoeira ser uma invenção escrava, isto é,
ter sido criada no Brasil, nas condições peculiares da escravidão urbana, mesmo majoritariamente por
africanos.
A roda de capoeira é o espaço, por excelência, no qual se realiza o jogo. Ela é um
universo de signos, símbolos e linguagem que simultaneamente intrigam e encantam,
constituindo um trailer da realidade social e revelando um turbilhão áudio-visual que
expressa um rico contexto e consolida um mosaico capaz de fascinar pela riqueza gestual e
ritualística e, ao mesmo tempo, provocar temor pela imponência e imprevisibilidade das
manobras de seus atores/sujeitos. (FALCÃO, 1999). Observamos a capoeira como uma
forma de expressão/educação/pedagogia com radical étnico e de classe, ainda que, em suas
novas configurações, certamente não é ela exclusiva dos afro-descendentes e a outras
populações marginalizadas.
O processo de mercadorização desse aspecto da educação do corpo é hoje um
elemento fundamental de sua constituição. Não se encontra com facilidade, no entanto,