OS ESCRAVOS E A ASSISTÊNCIA HOSPITALAR NO FUNCHAL -SÉCULOS XV-XIX
ALBERTO VIEIRA
CEHA(FUNCHAL)
A historiografia tradicional da escravatura insiste nas condições infrahumanas em que viviam os
escravos. Toda a atenção inside sobre as difíceis condições de vida: privados da liberdade e dos mais
elementares meios de sobrevivência. Para isso contribuíram as teses abolicionistas, que marcaram por muito
tempo os rumos da investigação sobre a escravatura, desviando a atenção dos historiadores para isso. Hoje
as investigações parcelares sobre as diversas áreas onde a escravatura existiu reprovam essa unicidade de
comportamentos. Em alguns casos é evidenciada a faceta humanista do senhor dos escravos. A violência do
acto de posse sobrepte-se o trato fácil e familiar de mdtua correspondência.
A Madeira é um deles. Aqui a escravatura a partir de meados do século XVI se assume pelo carácter
patriarcal, o escravo joga um papel diferente. Ele é, muitas vezes, mantido como uma forma de ostentação,
sendo, por isso mesmo, cumulado de afecto familiar. O escravo era mais um elemento da família em
condição semelhante aos criados, por isso fruia de todos os privilégios da casa. E este afecto poderia ser
recíproco: escravos(as) com uma relação privilegiada com os seus proprietários. Os testemunhos disso
encontramo-lo nas doações testamentárias e nos encargos de missa por morte1.
Os códigos que legitimavam a escravatura definiam os deveres dos proprietários: deviam-lhes protecção
até á morte, de comer, vestir e dormir. Nisto incluia-se a situação de doença e velhice. Mas aqui poderá
questionar-se o modo do seu cumprimento e das fugas possíveis. O elevado ndmero de libertos em avançada
idade, a rara presença de óbitos de adultos em contrapartida com a dos jovens e crianças poderá ser mais um
aferidor a testemunhar em favor do seu incumprimento. Mas, o contrário, também sucede. É o caso dos
elevados encargos suportados por alguns proprietários com os cuidados de sadde aos seus escravos. Esta